sábado, 18 de dezembro de 2010

Brasília um passeio pela nave.


Série Obsession Trip.
Brasília, passeio de nave espacial. 
Texto e Imagens 
Andrezza Almeida



Vista aérea do nada que antecede a chegada


Quando a gente vai chegando em Brasília, nem parece, ela é um susto, vem o serrado verde queimado dos círculos extraordinários das plantações, tudo parece um cenário de ficção. De repente as piscinas, o inesperado lago e a geometria familiar do plano piloto vai se descortinando verde e branca, Brasília não é de esquerda, nem de direita, ela está milimetricamente situada no centro do centro-oeste, é fruto de um plano que levou muitos anos pra sair do papel, provavelmente esperando a imaginação espacial do sagitariano centenário e ainda comunista Oscar Niemayer.

É possível encontrar muitas entrevistas com o famoso arquiteto suas explicações sobre a obra são convincentes e fazem a gente sentir que era aquilo mesmo que se estava pensando, que é tudo igual pra diminuir a sensação da diferença social, as quadras parecem, as ruas se assemelham e tudo é distribuído numa equivalência que faz pensar numa arquitetura de comuna.

Leva um tempo pra entender os códigos de letras e números, pra compreender a dinâmica das asas, zonas e setores, passei semanas em Brasília ciceroneada pelo  amigo Adelmo, que logo no primeiro dia me mostrou o mapa da cidade e disse que se prestasse bem atenção eu iria conseguir me movimentar com rapidez, isso nunca aconteceu, tem um metrô em Brasília que eu nunca vi, mas dei grandes andadas pelos parques,  pelo eixão e o eixinho. No mapa Brasília  é uma libélula, é um avião, é uma espada  e é uma nave espacial.

Imagem: Reprodução.

Talvez por que a gente sempre a vê  na TV ela entra fácil no peito, não demora vem uma familiaridade, o céu, as flores, o inusitado das diferentes aves, o lago que parece que nasceu ali.  Tem muita coisa pra admirar  e é sempre um treino para o olhar não se perder, são detalhes tão pequenos de lugares tão iguais.

As flores são um capítulo a parte, estão espalhadas pela cidade inteira que comemora o fenômeno da florada dos flamboyants  de diferentes tons que cobrem o chão de tapetes coloridos. Há uma enorme variedade de belas flores, arvores e arbustos brotando no meio do asfalto dando mais graças às concretudes da capital.

Em junho, quando estive lá, faz calor ao sol e um friozinho na sombra, de noite, faz frio e andar pelos parques é tão agradável que a gente perde a hora, entre arquiteturas e o exotismo da fauna e da flora, terra de pequenos oásis a capital não é um lugar bom para se fumar, por toda a parte há brigadistas que cuidam para que a inflamável cidade não pegue fogo.


 Brasília pra se morar.

Parece  um bom lugar para se criar os filhos, tem muitos parques e brinquedos, boas escolas, muitas creches,  as ruas são largas e planas , dá pra andar de bicicleta, skate, patins, jogar bola e praticar outros esportes.

É também uma cidade com grande acessibilidade, com facilidade para a locomoção de cadeirantes e de pessoas com restrições de mobilidade, sinais eletronicos e muito braile. 

Há algumas noticias sobre violência, como estive restrita ao plano piloto quase não pude percebê-la, os jornais  tratam da efervescência política das esquinas e quando estive lá da inusitada greve de rodoviários que durou uma semana e alguns dias.

Brasília é  uma cidade muito cara, as pessoas dizem que morar nas cidades satélites e trabalhar no plano piloto é mais em conta,  realmente tudo é muito caro, do pãozinho a cerveja.  
Não havendo muitas alternativas no plano de feiras e outros lugares para se economizar, lá se traduzem contrastes, é uma cidade cheia de ruas vazias, é possível se andar muito e encontrar duas ou três pessoas, o clima desértico prevalece, o que se movimenta são as máquinas e pelas ruas enormes, escorrem o dia todo carros de todos os modelos, placas e poderes.

O transporte público é bom e o coração da cidade é a rodoviária, um dos poucos lugares de grande movimentação de pessoas, negócios e interesses que funciona quase o tempo todo, é um dos lugares onde se pode encontrar artistas de rua, mendigos, hippies, artesãos, prostitutas e outras pessoas que ficam um pouco sem lugar na imensidão das ruas esvaziadas, além disso também é onde se pode encontrar coisas á preços mais populares.

Mesmo com todo planejamento as  18:30 um enorme engarrafamento toma conta do plano e a sensação de nave espacial aumenta.  Bonito de ver que até engarrafamento em Brasília é arquitetonicamente fascinante.

 Parque da Asa Norte, atrás os prédios de pilotis. 
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Desvendando o Plano
Existem duas coisas que precisam ser imediatamente compreendidas quando se chega a Brasília, que tal como uma máquina ela tem dois eixos e está proporcionalmente distribuída em dois lados iguais , as asas norte e sul são separadas pelo Eixo monumental, que vai de oeste a leste, da rodoferroviaria até a praça dos três poderes , são seis faixas de tráfego, larguíssimas. o outro eixo é o eixo rodoviário, conhecido na cidade como o eixão ele cruza as asas e faz voltar pra casa quem mora no plano e nas cidades satélites..

Eixão.


Brasília é dividida em setores, quadras e zonas. Os setores congregam interesses, setor de clubes, setor hoteleiro, o primeiro projeto da cidade foi feito pelo arquiteto Lucio Costa, que venceu o concurso feito pelo .então presidente Juscelino Kubitschek, a vitoria do plano é explicada em algumas literaturas como sendo fruto da percepção do arquiteto de que a cidade deveria ser zoneada com a mencionada concentração de funções.
A nomeação das ruas obedece aos pontos cardeais tendo como referencia o cruzamento entre o eixão e o eixo monumental, são letras e números que assustam nos primeiros momentos, mas que depois de algumas explicações mostram-se totalmente racionais


Niemayer entra na história de Brasília como o chefe do departamento de urbanismo e arquitetura da empresa que construiu Brasília, sendo tão forte sua interferência no plano original que são predominantemente seus os louros dedicados a construção da cidade e o seu planejamento.










As superquadras norte e sul, são os lugares que abrigam os complexos residenciais no entorno do lago Paranoá, também obedecem a lógica dos pontos cardeais sendo os prédios nomeados por letras e números, separando cada quadra, áreas verdes, parques e praças. Dentro destas existem lotes comerciais onde ficam padarias, mercados, farmácias e as redes de serviços.
O ponto mais marcante na arquitetura dos prédios são os pilotis, enormes alicerces, usados para tornar os prédios construções suspensas que possibilitam cruzar toda uma superquadra por debaixo dos edifícios e contribuem ainda para uma maior ventilação da cidade, o que é algo preocupante numa cidade construída em meio a aridez do serrado.

Os setores são grandes conglomerados funcionalmente distribuídos, setor de escolas, bancos, hotéis, comercial norte e sul, setor de diversão e assim vai Brasília e toda a gente que mora por lá.


Raízes e Antenas.

A explanada dos ministério é uma coisa linda de se ver, aqueles prédios enormes, naquele formato um atrás do outro que dá ma vontade infantil de derruba-los como se fossem dominó, depois quando a praça dos tres poderes vem se aproximando voce olha pra tras e tem a impresão não mais dos dominós mas ao caminho que vai conduzir para o centro norvoso da nave , e eu penso no fofo do comandante Lula resolvendo alguma coisa uito importante por ali.

Brasília também dá uma segurança intergalática de que se o país for invadido por alienígenas mal intensionados, a cidade vai dár uma tremidinha, e bater as duas asas. acho que em algum lugar lá se esconde esse mecanismo de voo, não encontrei.


Em Brasília é difícil resistir a certo patriotismo, o verde amarelo está presente, o planalto tá ali, a bandeira trêmula em muitas esquinas e você pode sentir o poder pulsando em algum lugar ali perto, sempre haverá que condene a cidade com base nas suas decepções políticas, ela segue quase indiferente, é difícil parar Brasília, fechar suas ruas largas exige muita preparação, sua mistura de falas, jeitos e costumes a tornam uma Cosmópolis caçula, nova e familiar.


                             
 área da rodoviária.                     

No eixo monumental no meio de setor de hotéis uma torre antena que abriga de baixo de si uma feira, verdadeira babel nacional, onde os mais diferentes costumes vão se encontrar e você pode comer pão de queijo e tomar  depois um tacacá na barraca do lado.delícias de uma cidade feita pra o povo se mudar pra lá,  Uma jovem de 50 anos  e a nação se encontra lá, nos botecos, nos sambas e chorinhos, nas casas subterrâneas, ou grandes teatros.
As primeiras explorações do território com a finalidade de encontrar um lugar para construir uma cidade foram feitas em 1893, pelo astrônomo capricorniano Luis Cruls, isso é um dado interessante sobre a cidade, além de justificar a sensação de um céu mais baixo, mais azul e mais infinito, também deve explicar uma aura astral que envolve Brasília e seus arredores, a cidade tem uma coisa de mística em meio ao seu zelo pela funcionalidade  a gente sente algo no céu e no barro vermelho que ainda escorre por debaixo das placas de asfalto. Quando você já passou muitos dias e pensa que não tem mais nada que vá te surpreender o azul do céu vai ficando rosa, amarelo, lilás,  turquesa... e uma explosão de cores toma conta do céu e você pensa que a bela Brasília mais esconde do que mostra, e dá vontade de ficar, e dá vontade de voltar.







Como toda cidade grande , BSB não é só belezas, a pobreza em Brasília é mais pobre, o calor é maior, os mendigos não são bem quistos, o crack invade lentamente o centro, os jovens organizam-se em gangs e as dimensões tornam Brasília um péssimo lugar para andarilhos, faltaram uns bebedouros e mais banheiros públicos.




Rodoviária de Brasília
Um belo lugar para se divertir é a concha acústica da cidade, uma construção na margem do Paranoá, minha estada em Brasília foi desencadeada pela feira do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que acontecia lá, o chão de barro vermelho, o lago e a aridez viva dão um sentimento de festa numa marte já povoada, é bonito de se ver festa em lugar de reunião. 
 Além disso, é também bom de apreciar a multiplidade das expressões que compõe Brasília congregadas dentro do mesmo espaço com o nome de Brasil Rural e Contemporâneo, mas isso é uma história pra outro dia.
Por hora cabe dizer que em Brasília você se sente mais brasileiro seja por que todo mundo se encontra lá, seja por que o poder emana de lá e a bandeira nacional tremula verde e linda ou porque a miséria e a beleza estão juntas  ali e você se pergunta se isso faz parte do plano.#



                       

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