sábado, 18 de dezembro de 2010

Belém: Cidade Morena.


Série Obsession Trip.
Belém Metrópole da Amazônia.
Texto e Imagens: Andrezza Almeida.

Belém é quente, úmida, tem cheiros e sabores em todas as esquinas, é verde das mangueiras espalhadas pelas ruas.
Os caminhos que levam até a bela cidade podem ser o céu, o mar ou o rio, todos belos, cheios de um exotismo que Amazônia tem mesmo para quem nela vive a vida toda, sempre haverá uma surpresa no caminho, sempre algo que assusta, impressiona e encanta.

Castanha-do-Pará.



Quem vai de Avião consegue ver a multidão de águas e florestas e uma cidade verde e luminosa aparece depois de muito tempo de sobrevôo sobre o verde tapete de mato da floresta. Quem vai de barco sente-se num daqueles documentários aonde as casas ribeirinhas vão passando, os braços de rio, a vegetação fechada, surpresas de bichos, botos, cobras.




Quem chega de ônibus desembarca na rodoviária que fica situada no bairro de são Brás, bairro conhecido por ter a primeira caixa d´agua da cidade,  pelo inconfundível museu Magalhães Barata que tem o formato de um  chapéu e o mercado de São Brás, grande construção da primeira década do século XX.
Da porta da rodoviária á direita fica a Avenida Almirante Barroso a maior avenida da cidade caminho de entrada e saída da capital paraense, onde estão localizados escolas, clubes, quartéis, comércios, casas, órgãos públicos e o imperdível Bosque Rodrigues Alves, enorme zona de proteção ambiental bem no centro nervoso de Belém.



Não importa que motivos te levam a capital paraense, tem coisas que não se pode deixar de fazer e principalmente coisas que não se pode deixar de comer, comer em Belém é uma instituição, um hábito, um tipo de comunhão com o mundo, por todos os lados na cidade se encontram gostosuras tão baratas que é muito difícil manter uma dieta ou mesmo não engordar uns bons quilinhos depois de uma visita a cidade Morena, são tantas frutas, plantas, doces, salgados, carnes e ervas que as misturas são incontáveis e comer torna-se uma grande aventura de sensações. Tacacá, pato no tucupi, pupunha, creme de muruci, biribá, taperebá, salaminho de cupuaçu, Tamuatá com Jambu são só algumas das milhares de receitas que fazem qualquer visitante entregarem-se de olhos fechados para a exuberância dos sabores da cidade que recebe seus turistas com a informação de que a chuva virá lá pelas quatro e que se chover, nos vemos depois da chuva.

Belém é colorida, muito verde, cheia de cheiros dos matos, dos peixes, das belas mulheres e seus famosos exageros de perfume, é uma cidade fácil de sobreviver, tem ciclovias, muita sombra e um sistema de escoamento que vem melhorando muito nos últimos anos impedindo que a cidade afunde diante da quantidade de água que cai durante todo o ano, é uma cidade nublada o céu está sempre cheio de nuvens e com promessas de chuva.

vista da baía do Guajará.
Dos lugares que não se pode deixar de ir e coisas que não se pode deixar de ver, estão o museu Emílio Goeldi, O Bosque Rodrigues Alves, a Basílica de Nazaré e o impressionante Ver-o-Peso.

O Museu Emilio Goeldi é um núcleo de pesquisa e preservação ambiental, foco de propagação dos estudos sobre a biodiversidade e a cultura dos povos da Amazônia, o museu foi fundado em 1871 e se chama Museu Paraense, em 1893 o suíço Émil August Goeldi famoso naturalista foi demitido do museu nacional por questões políticas e logo em seguida convidado pelo então governador Lauro Sodré para iniciar o movimento de coleta de dados e coleções que tornariam o museu o centro de referencia da cultura amazônica com a publicação de literaturas de referencia internacional, é excelente lugar para se passear, com viveiros de cobra, orquidário, jacarés, muitos macacos, pássaros e uma imensidão de outros bichos, plantas e flores, além das já mencionadas gostosuras espalhadas pelos quiosques, Como quase tudo em Belém o ingresso é superbarato e criança até 8 anos não paga.
Mapa do Goeldi. crédito: reprodução. 

A diferença entre o Museu e o Bosque, que leva o nome de um carioca que foi presidente da república é que este segundo tem sua ênfase maior na preservação de um pequeno pedaço de mata nativa original com predominância de animais livres como pássaros e roedores como a paca e a cutia, existindo animais enjaulados em pequena quantidade e uma maior disponibilização de áreas de lazer, com castelos de pedra , parques, passeio de canoa e quiosques, além de também contar com  orquidário e aquário. O bosque como sempre foi conhecido agora se chama Jardim Botânico, é um lugar excelente para se namorar e passear nas tardes quentes, se você for criança ainda pode se refrescar nas fontes dentro dos pequenos castelos de pedra espalhados por todos os lados ocupa 150 mil metros quadrados de área e é inspirado no parque francês Bois de Bologne, também tem ingressos muito baratos ou gratuitos dependendo do dia da semana.

Vista áerea do Rodrigues Alves. (Reprodução)

A maior tradição do povo paraense é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, o primeiro círio aconteceu em 1793, sendo portanto a tradição bicentenária, a Imagem que deu origem a devoção foi encontrada por um pescador em cima de um tronco de arvore no meio da floresta, sendo levada pra casa, na manhã seguinte o pescador e sua familia constataram que a imagem havia sumido, sendo novamente encontrada no mesmo local, o milagre se repetiu ainda duas vezes, e neste local foi contruída a primeira igreja onde hoje fica a Basílica e o Bairro de Nazaré.

Chegada da procissão na basílica.
foto de Taty Lima.





Nossa Senhora de Nazaré resolve qualquer tipo de problema, isso é possivel de ser constatado durante o cirio que ocorre no segundo domingo de outubro, mas as preparações demoram muito, são os patos que são engordados durante um ano, depois transportados pelos parentes vindos do interior junto com outros ingredientes para serem vendidos nas feiras e mercados ou servirão para presentear os parentes que oferecem estadia e o tradicional almoço.

Garrafas do Tucupi, que é extraído da mandioca 
e é um dos principais ingredientes tanto para o pato
quanto para o peixe e o Tacacá, é servido comumente 
com jambu, uma planta com propriedades anestésicas.
O círio é carnaval, é natal é a maior festa do povo paraense, em muitos lares católicos novenas antecedem o período de 15 dias da festa que é marcada pela transladação que leva a santa para a cidade de Icoaraci e depois retorna em procissão fluvial desembarcando no ver-o-peso, o ápice da celebração ocorre no segundo domingo de outubro onde ocorre a procissão que leva a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré do colégio Gentil Bitencourtt até a Basílica, tendo em média um público de 2 milhões de fiéis que vão pagar suas promessas ou pedir bençãos a santa padroeira.

A cidade toda respira o círio e imagens brotam em toda a aparte de vários tamanhos , além da reprodução da santa em todos os tipos de produtos, camisetas, canecos, chaveiros etc..
O Arraial entorno da Basílica fica armado durante 15 dias nos quais a imagem fica disponivel para visitação no santuário do CAN- Complexo arquitetônico de Nazaré.


A procissão é marcada pela infinidade de formas de pagamento de promessas, são partes do corpo feitas de cera, tijolos, eletrodomésticos  e outras diferentes coisas caregadas pelos romeiro durante todo o trajeto, para os pagadores de promessas mais resistentes tem a corda que antecede o andor da santa, é preciso tirar os sapatos que são proibidos em todo o entorno da corda e chegar bem cedo para garantir um lugar na corda quando ela ainda está no chão. Há quem prometa ir na corda e os outros pagadores de promessas que distribuem água para os cordeiros.


Potes, tipitis, matapis, rasas, peneiras e esteiras. artigos
comumente trazidos de outras cidades para vender no ver-o-peso
nesta foto os artigos no porto da cidade de Igarapé-Miri
para serem embarcados,

É uma festa linda e emocionante marcada por fé, música, devoção e reafirmação dos laços familiares. Depois que a santa chega na basílica é hora de voltar pra casa e celebrar a presença de amigos e familiares que muitas vezes só são vistos nessa época, um bom paraense mesmo distante lembra do círio, ou mesmo volta para a cidade para presenciar a festa da santinha.
Paneiro de Açaí.



Uma das maiores homenagens que a santa recebe é a do sindicato dos estivadores que ocorre nas imediações do Ver-o-Peso que é a maior feira livre da América Latina, a feira que existe desde 1625 e recebeu este nome por que lá ficavam as casas de pesagem de mercadorias e os marreteiros e pescadores iam até a feira para ver o peso das suas cargas. Fica localizada na margem da Baía do Guajará, é composta por um porto que funciona durante 24 horas num eterno embarcar e desembarcar de aviamentos, animais e pessoas.
Aqui o pirarucu, peixe muito vendido 
para ser consumido junto com o açaí
é o bacalhau da Amazônia. 
O Ibama está sempre presente para fiscalizar as vendas irregulares de animais vivos ameaçados de extinção ou carnes proíbidas como a do bastante procurado jacaré  , a feira é dividida por setores, mas isso é uma consfiguração recente derivada da reforma feita naquela área no ano 2000, qua alem de dar nova cara ao antiga feira mal distribuída e mal iluminada, ainda reformou alguns dos galpões da doca, criando dois novos pontos turísticos , a estação das docas e o praça ver-o-rio atuais pontos turisticos da cidade.









Típicas embarcações para transporte de pessoas e mercadorias. 

Estação das Docas.
No ver-o-peso é possivel comer todas as frutas e comidas típicas, comprar artigos de viajem, pesca, caça, artesanatos e tudo que se pode precisar para viagens longas ou para um bom almoço paraense que é cotidianamente composto pelo ouro negro da amazônia o açaí com farinha, que na feira é vendido junto com postas de peixe e outras carnes como charque e caças.
Passáros vendidos no Ver-o-peso

Casa de folhas.


Lá também podem ser comprados remédios naturais para os mais diversos tipos de males além de casa de ervas que prometem trazer seu amor de volta, afastar mal olhado e ainda vendem o famossissimo chama da amazônia complexo perfume feito de ervas e raízes que atraem o sexo oposto, um dos hábitos mágicos muito repetido em Belém é trazer consigo um patuá feito do sexo do boto para os homens e da bota para as mulheres que garantem que sempre se tenha um romance á vista.






Algumas crianças quando nascem tomam banho na água onde ferve esse estranho elemento já perseguido pelo controle ambiental, isso garante que a criança terá uma vida amorosa intensa o que é uma coisa muito importante para o fogoso povo paraense.
Sendo assim no ver-o-peso você pode comprar uma mochila ou uma mandinga, seja o que for que você está procurando encontrará por lá com um precinho camarada e possivel de ser pechinchado com a mágica frase – Égua, mas tá muito caro!



Concha acustica do Hangar, onde estava acontecendo a Feira do Livro, na foto montagem do som para o show de Lenine. 
Belém é uma cidade de mulheres bonitas, de putas baratas, onde o luxuoso e o roots estão muito proximos, é uma terra de gente desconfiada de coração grande e de uma fé notável, tem sido muito assolada pela violência urbana fruto da formação de gangs e da grande desigualdade entre os muito ricos e os muito pobres que é absurdamente grande naquelas bandas.
É sempre bom se informar sobre os lugares onde se está com o risco de haver um perigo eminente naquela área.

Além da infinidade de cores, texturas e sabores a musicalidade da região também é marcante, o carimbó e o tecnobrega dividem espaço nas naves dos DJ´s das aparelhagens que estão em toda a parte, tem fã clubes e seguidores que acompanham as festas. O Brega música que originalmente teve inspiraçãono brega tradicional que depois se misturou com ritmos caribenhos como o Calipso, e em outras formas mais tradicionais como o siriá, as gitarradas e outros ritmos regionais, é muito marcado pelo uso de sintetizadores, pelo comercio alternativo de CD e DVD e por ser dançado em dupla o que aumenta a chance de funcionamento dos perfumes do ver-o-peso, as festas ocorrem por toda a cidade, nas casa de show ou nas arenas de festa.


vista da Nave da Aparelhagem Tupinambá.
foto:Dorigatti, 


Tem uma paisagem urbana mista que vai da clássica arquitetura dos aureos tempos da borracha até a modernidade dos prédios e espaços como é o caso do centro de convenções Hangar, um antigo espaço da aeronautica reservado para receber shows e eventos como a feira do livro que ocorre em setembro, pode-se também passear por bairros inteiros sobre palafitas,  Belém é um excelente local para a compra de eletro-eletronicos vindos diretamente da zona franca de Manaus. Por lá as pessoas tem celulares ótimos e existem pontos de internet espalhados por toda a cidade.

O tradicional e o moderno, o urbano e o selvagem tudo isso se encontra ali na cidade penísula onde o grande povo Tubinambá reinou até a chegada das missões portuguesas.
Como diz o mestre Pinduca Quem vai ao Pará parou, tomou açaí, ficou!

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A Autora.

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Andrezza Almeida