sexta-feira, 28 de setembro de 2012

As drogas e a juventude sem-futuo












 






As drogas e a juventude sem-futuro.
Andreza Almeida*
” Estou com medo
tive um pesadelo
posso dormir aqui
com vocês?”
Legião Urbana..




O que gera a violência? Essa é uma pergunta difícil de responder, a violência advêm de uma série de fatores que vão desde predisposições de personalidades, até macro questões estruturais, de modo que os vários tipos de violência, da doméstica a institucional, passam por uma série de mediações que exigem estudos específicos para compreender as nuanças sutis que separam o que são fatores comuns e o que é exceção, desvio ou subjetividade.
Na área da segurança pública os fatores subjetivos são as mentes que comandam e as sub-subjetividades que executam, nisso temos os diferentes policias, coronéis, comandantes, secretários, juristas, legisladores e executores, todos pessoas, cheias de ideias, ideais e valores.
É preciso antes de nos enveredarmos pelos caminhos dos macro-fatores, olharmos atentamente para a questão desses valores, dessas subjetividades e da quebra de paradigmas.
O conservadorismo não é bem representado por muros intransponíveis, que para atravessá-los seja necessário convites ou picaretas, antes ele é melhor representado por cercas, podemos ver através delas, desejarmos estar do outro lado, e mesmo transpor essas fragilidades culmina em conflito, quebrar, romper, invadir, aquilo que tomamos por definitivo, que estabelecemos como parâmetros, fronteiras, limiares.
É a sociedade um conjunto de acordos e consequências.
O conservadorismo associado a subjetividade mantém leis antiquadas, resguarda valores ultrapassados, toma como corretas medidas excessivas, e constrói as cercas imaginárias que nos separam das transformações do mundo.
Logo para mudar certos quadros é preciso vencer ideias, superar velhos hábitos, romper a barreira dos costumes e enfrentar as rajadas de balas simbólicas ou reais que se destinam a quem ocupa territórios particulares.
Porque é na consolidação desses valores, dados como corretos e dignos de defesa, que vão residir os problemas estruturais, no caso da violência pública associada ao tráfico de drogas, o proibicionismo e a repressão armada são os dois paradigmas, determinantes, para uma análise dos aspectos mais subjetivos do problema, o desenvolvimento dele, no entanto, está mais relacionado a problemas como a pobreza e a falta de emprego e educação.
Mas isso é o que todos já disseram e que já foi visto e debatido a exaustão, o que de novo então podemos somar a este debate? O fato é que faltam medidas emergenciais de Redução de Danos Sociais, se o sujeito nasce em condições de pobreza, em áreas de violência e com todas as dificuldades do mundo para ir a escola e concluir estudos que lhe permitam uma vida segura e digna, com trabalho, saúde e moradia, esse jovem tem um grande potencial para um dia estar engrossando estatísticas de violência, desabrigos, mortes.
Por que um jovem usa drogas?
Por que um jovem entra para o tráfico de drogas?
No primeiro caso podemos citar alguns fatores a busca simples por prazer, a falta de outras compensações, a curiosidade, a pressão social, o desejo de novas experiências, aquele velho e bom espírito transgressor.
As drogas além de propiciarem estados alterados de consciência, deixando longe de nós pensamentos indesejáveis, provocam sensações agradáveis, representam status, conferem diferentes valores sociais, definem posições em agrupamentos e mais que tudo isso a droga gera grupos de identidade dentro dos quais os jovens se encontram, compartilham e comungam experiências, acordos, ideais e perspectivas, muitas vezes a revelia de mediadores como a família, o Estado e a Escola, muitos deles depois terão seu primeiro grande encontro institucional com a polícia, em alguns casos o único da vida.
Qual a diferença na expectativa de vida de um escravo no idos do século XIX e um jovem negro no tráfico? Por que são os remanescentes de Quilombo como o Calabar e o Engenho Velho da Federação e outros quilombos atuais como são os morros e outras periferias que continuam a ser o local de investidas das milícias?
Definitivamente o tráfico seja ele de negros ou de drogas ainda fornece dinheiro para grandes comerciantes à custa da consumição da carne mais barata do mercado, os recortes etários e étnicos da pobreza continuam os mesmos há séculos.
Os motivos que levam um jovem a entrar no mercado das drogas são muito parecidos com os que o conduzem ao consumo, com um grande diferencial oriundo do nosso modelo consumista, a felicidade vendida nos comerciais, o glamour das novelas, o universo dos shoppings, eles também querem consumir, também querem status, poder social e aquisitivo e o tráfico é uma maneira rápida e muitas vezes a única, de sentir-se inserido dentro de seu contexto social, obter respeito, poder e dinheiro, coisas absolutamente desejáveis por todas as camadas sociais.
A Redução de Danos, por princípio, prevê problemas, admite pragmaticamente a existência das práticas para além das proibições e minimiza assim impactos posteriores e imediatos.
Trabalhando com diferentes conceitos para promiscuidade, um muito particular é o social, uma casa com muitas pessoas, pouca comida e nenhum espaço é um lugar de promiscuidade, as noções de assepsia, privacidade e respeito de espaços ficam bem distante dessas realidades, por isso é preciso tirar de dentro de casa jovens nessas condições, por que eles por si próprios sairão, com a diferença de que não terão um local adequado para ir.
Quem são as maiores vítimas da violência urbana, quem são os que a promovem? Que tipos de crimes acontecem em maior intensidade? que parte desta violência, dessas vítimas e algozes é fruto do tráfico de drogas?
A experiência, muitos estudos feitos e os jornais nos dão indícios de faixas etárias, localizações espaciais, histórias de vida, sabemos que o grosso da violência e dos problemas agrupados sobre drogas, usos críticos e decorrências do tráfico acontecem em camadas específicas da população exatamente isso é o que chamamos vulnerabilidade social.
Minimizar essa vulnerabilidade e reduzir seus danos exige uma ampliação da tutela do Estado sobre a infância e a juventude. Atualmente os programas voltados para estes segmentos sofre problemas com descontinuidades ou interrupções, causadas por transposição de faixas etárias, mudanças de governo, términos de financiamentos e como vieram se vão.
Além disso esses programas para jovens, não dão conta da integralidade necessária na minimização de conflitos sociais e familiares, na mediação de dificuldades como questões de gênero e etnia, afirmações identitárias, inserção no mundo do trabalho, além de muitas vezes produzirem expectativas sem supri-las, aumentando o descrédito que tem as instituições públicas para esses indivíduos.
Não falta apenas uma Secretaria Estadual de Juventude, falta um Sistema Único para a Juventude, que garanta que o jovem entre na escola no tempo certo, acompanhe seu desenvolvimento escolar, amplie o tempo que passa recebendo educação, afaste os mais conflituosos de um meio ambiente danoso, garanta seu ingresso no mundo do trabalho e o auxilie na construção de valores que o distancie da violência.
Logo são dois novos paradigmas o da regulamentação do consumo e venda de psicoativos e a compreensão da juventude como estratégica para uma construção, em médio prazo, de um país com cada vez menos desigualdades sociais e livre do extermínio da pobreza.
Revitalizar espaços, atualizar abordagens, discursos e garantir a continuidade das ações são pequenos passos, mas já é um grande começo.

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A Autora.

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Andrezza Almeida