As drogas e a juventude sem-futuro.
Andreza Almeida*
” Estou com medo
tive um pesadelo
posso dormir aqui
com vocês?”
Legião Urbana..
O que gera a violência? Essa é uma pergunta
difícil de responder, a violência advêm de uma série de fatores
que vão desde predisposições de personalidades, até macro
questões estruturais, de modo que os vários tipos de violência, da
doméstica a institucional, passam por uma série de mediações que
exigem estudos específicos para compreender as nuanças sutis que
separam o que são fatores comuns e o que é exceção, desvio ou
subjetividade.
Na área da segurança pública os fatores
subjetivos são as mentes que comandam e as sub-subjetividades que
executam, nisso temos os diferentes policias, coronéis, comandantes,
secretários, juristas, legisladores e executores, todos pessoas,
cheias de ideias, ideais e valores.
É preciso antes de nos enveredarmos pelos
caminhos dos macro-fatores, olharmos atentamente para a questão
desses valores, dessas subjetividades e da quebra de paradigmas.
O conservadorismo não é bem representado por
muros intransponíveis, que para atravessá-los seja necessário
convites ou picaretas, antes ele é melhor representado por cercas,
podemos ver através delas, desejarmos estar do outro lado, e mesmo
transpor essas fragilidades culmina em conflito, quebrar, romper,
invadir, aquilo que tomamos por definitivo, que estabelecemos como
parâmetros, fronteiras, limiares.
É a sociedade um conjunto de acordos e consequências.
O conservadorismo associado a subjetividade mantém
leis antiquadas, resguarda valores ultrapassados, toma como corretas
medidas excessivas, e constrói as cercas imaginárias que nos
separam das transformações do mundo.
Logo para mudar certos quadros é preciso vencer ideias, superar velhos hábitos, romper a barreira dos costumes e
enfrentar as rajadas de balas simbólicas ou reais que se destinam a
quem ocupa territórios particulares.
Porque é na consolidação desses valores, dados
como corretos e dignos de defesa, que vão residir os problemas
estruturais, no caso da violência pública associada ao tráfico de
drogas, o proibicionismo e a repressão armada são os dois
paradigmas, determinantes, para uma análise dos aspectos mais
subjetivos do problema, o desenvolvimento dele, no entanto, está
mais relacionado a problemas como a pobreza e a falta de emprego e
educação.
Mas isso é o que todos já disseram e que já foi
visto e debatido a exaustão, o que de novo então podemos somar a
este debate? O fato é que faltam medidas emergenciais de Redução
de Danos Sociais, se o sujeito nasce em condições de pobreza,
em áreas de violência e com todas as dificuldades do mundo para ir
a escola e concluir estudos que lhe permitam uma vida segura e digna,
com trabalho, saúde e moradia, esse jovem tem um grande potencial
para um dia estar engrossando estatísticas de violência,
desabrigos, mortes.
Por que um jovem usa drogas?
Por que um jovem entra para o tráfico de drogas?
No primeiro caso podemos citar alguns fatores a
busca simples por prazer, a falta de outras compensações, a
curiosidade, a pressão social, o desejo de novas experiências,
aquele velho e bom espírito transgressor.
As drogas além de propiciarem estados alterados
de consciência, deixando longe de nós pensamentos indesejáveis,
provocam sensações agradáveis, representam status, conferem
diferentes valores sociais, definem posições em agrupamentos e mais
que tudo isso a droga gera grupos de identidade dentro dos quais os
jovens se encontram, compartilham e comungam experiências, acordos,
ideais e perspectivas, muitas vezes a revelia de mediadores como a
família, o Estado e a Escola, muitos deles depois terão seu
primeiro grande encontro institucional com a polícia, em alguns
casos o único da vida.
Qual a diferença na expectativa de vida de um
escravo no idos do século XIX e um jovem negro no tráfico? Por que
são os remanescentes de Quilombo como o Calabar e o Engenho Velho da
Federação e outros quilombos atuais como são os morros e outras
periferias que continuam a ser o local de investidas das milícias?
Definitivamente o tráfico seja ele de negros ou
de drogas ainda fornece dinheiro para grandes comerciantes à custa
da consumição da carne mais barata do mercado, os recortes etários
e étnicos da pobreza continuam os mesmos há séculos.
Os motivos que levam um jovem a entrar no mercado
das drogas são muito parecidos com os que o conduzem ao consumo, com
um grande diferencial oriundo do nosso modelo consumista, a
felicidade vendida nos comerciais, o glamour das novelas, o universo
dos shoppings, eles também querem consumir, também querem status,
poder social e aquisitivo e o tráfico é uma maneira rápida e
muitas vezes a única, de sentir-se inserido dentro de seu contexto
social, obter respeito, poder e dinheiro, coisas absolutamente
desejáveis por todas as camadas sociais.
A Redução de Danos, por princípio, prevê
problemas, admite pragmaticamente a existência das práticas para
além das proibições e minimiza assim impactos posteriores e
imediatos.
Trabalhando com diferentes conceitos para
promiscuidade, um muito particular é o social, uma casa com muitas
pessoas, pouca comida e nenhum espaço é um lugar de promiscuidade,
as noções de assepsia, privacidade e respeito de espaços ficam bem
distante dessas realidades, por isso é preciso tirar de dentro de
casa jovens nessas condições, por que eles por si próprios sairão,
com a diferença de que não terão um local adequado para ir.
Quem são as maiores vítimas da violência
urbana, quem são os que a promovem? Que tipos de crimes acontecem em
maior intensidade? que parte desta violência, dessas vítimas e
algozes é fruto do tráfico de drogas?
A experiência, muitos estudos feitos e os jornais
nos dão indícios de faixas etárias, localizações espaciais,
histórias de vida, sabemos que o grosso da violência e dos
problemas agrupados sobre drogas, usos críticos e decorrências do
tráfico acontecem em camadas específicas da população exatamente
isso é o que chamamos vulnerabilidade social.
Minimizar essa vulnerabilidade e reduzir seus
danos exige uma ampliação da tutela do Estado sobre a infância e a
juventude. Atualmente os programas voltados para estes segmentos
sofre problemas com descontinuidades ou interrupções, causadas por
transposição de faixas etárias, mudanças de governo, términos de
financiamentos e como vieram se vão.
Além disso esses programas para jovens, não dão
conta da integralidade necessária na minimização de conflitos
sociais e familiares, na mediação de dificuldades como questões de
gênero e etnia, afirmações identitárias, inserção no mundo do
trabalho, além de muitas vezes produzirem expectativas sem
supri-las, aumentando o descrédito que tem as instituições
públicas para esses indivíduos.
Não falta apenas uma Secretaria Estadual de
Juventude, falta um Sistema Único para a Juventude, que garanta que
o jovem entre na escola no tempo certo, acompanhe seu desenvolvimento
escolar, amplie o tempo que passa recebendo educação, afaste os
mais conflituosos de um meio ambiente danoso, garanta seu ingresso no
mundo do trabalho e o auxilie na construção de valores que o
distancie da violência.
Logo são dois novos paradigmas o da
regulamentação do consumo e venda de psicoativos e a compreensão
da juventude como estratégica para uma construção, em médio
prazo, de um país com cada vez menos desigualdades sociais e livre
do extermínio da pobreza.
Revitalizar espaços, atualizar abordagens,
discursos e garantir a continuidade das ações são pequenos passos,
mas já é um grande começo.
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