quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

LEGALIZE COCAINE.










Legalize Cocaine.

Faz dias que borbulham na minha  timeline noticias sobre a internação compulsória de usuários de Crack em São Paulo,  tive a oportunidade na minha vida de trabalhar com usuários das mais diversas drogas de maconha a sintéticos, mas com ênfase em usuários de Crack, trabalhei inclusive  na cracolândia, sempre dentro da perspectiva da Redução de Danos e por isso acompanho com interesse científico e humanista a evolução desse debate.
Talvez nem todos saibam que Cocaína e Crack são em tese a mesma coisa, sendo o crack uma variante de baixa qualidade oriunda do resíduo do refinamento do Crack, usada na forma fumada , o que lhe garante uma absorção mais rápida e intensa pelo organismo.
O Crack surgiu nos Estados Unidos, dentro de uma política de proibição que previa a proibição da importação do material utilizado no refinamento da cocaína.
Isso faz pouco mais de uma década e nesse período o Crack fez um grande serviço para a comunidade terapêutica, substituiu a cocaína injetável  pela cocaína fumada, o que parece trocar seis por meia dúzia , é na verdade uma benvinda substituição tendo em vista que diminui em grande porcentagem o risco de infecção de HIV, Hepatites virais e outras doenças.
As políticas sobre drogas que passaram muito tempo estagnadas dentro do paradigma da proibição deram um grande salto nos últimos anos  com a legalização da maconha em vários países,  e a ampliação dos debates legalistas.
Um exemplo dessa mudança de paradigmas é a utilização do termo Pacificação em substituição ao termo guerra ao tráfico que até pouco  tempo era utilizado
A cracolândia  de São Paulo onde trabalhei por alguns meses é o cenário da degradação, longe de parecer com as festinhas onde se consome cocaína, ali junta-se pobreza, abandono, vulnerabilidades de vários tipos e o pior a falta de perspectiva.
Em campo várias vezes ouvi de vários usuários
– Tia eu quero sair dessa vida, como eu faço?
O redutor indica o sistema e espera que o usuário acione todo um sistema que funciona para atende-lo e que não é utilizado justamente por que o usuário encontra-se preso dentro do ciclo vicioso do vício.
Cada droga tem seu padrão de consumo, a droga pode ser injetada ou inalada, pode ter cheiro denunciante ou ser silenciosa, pode ser mais ou menos tolerável socialmente , é usada solitária ou coletivamente, mas o mais determinante no vício é o quanto de droga o usuário precisa e o nível de dependência que ela gera que estão diretamente associados aos efeitos no sistema nervoso central em grande medida, mas também a situação social do usuário, o quanto a droga ocupa na vida dele, ou quanto de vida a droga deixa para o usuário.
Em muitos casos na cracolândia, os usuários passam o dia inteiro entre o “corre” e a “nóia”
O corre pode ser um trabalho ou a venda de um objeto pessoal, ou a prostituição e o roubo,  também não existe uma faixa etária definida, crianças , adolescentes, jovens, adultos e idosos fumam e convivem no mesmo ambiente insalubre.
A contaminação do crack dentro do utilizado conceito de epidemia se dá da forma clássica, alguém que ofereceu pra alguém que aceitou e gostou e se habituou e continuou usando, e dessa forma a cracolândia cada dia mais crescendo e ali mesmo sendo a própria prisão dos usuários, cativos de suas próprias fraquezas.
O fato é que o usuário não procura o Sistema de atendimento e assim milhões de reais são gastos pra tratar uma mazela que não se cura sozinha, isso sempre é discutido nos encontros sobre drogas a não adesão dos usuários ao sistema, o que gera um entrave no planejamento de tratamento, o crack auto-violenta quem usa, o emagrecimento repentino pela desnutrição, a perda dos vínculos familiares e dos amigos fora do circulo de uso, o abandono da vida social fora da rotina da droga, a prostituição, o crime e em vários casos a morte por comorbidades  derivadas do uso ou vítimas  de violencias associadas.
As informações que tenho é de que poucas pessoas foram efetivamente obrigadas a se tratar, e que na maior parte dos casos os usuários se ofereceram para o tratamento, não dá pra usar com o crack os mesmos parâmetros de legalização que se usa para a maconha e nem comparar o uso do crack ao uso da cocaína inalada, tendo em vista seus efeitos e os desdobramentos do uso continuado.
Eu acho que os usuários de Crack já são vítimas de uma compulsão que é o próprio uso, estão a mercê da polícia que os violenta todos os dias nas ruas, como presenciei várias vezes com a equipe no campo e em algumas situações fomos nós mesmo vitimas de maus  tratos, sendo expulsos e revistados por policiais á cavalo.
Uma história que se repete é a que narra que o usuário foi internado e saiu e teve uma recaída e voltou para a internação e assim de novo e de novo, por isso duvido muito que obrigar alguém a ser internado funcione, mas acredito na internação como uma quebra do ciclo que possibilita se experimentar uma outra sensação, um outro lugar, uma outra vida.
Acima de tudo eu acredito que a primeira coisa que se deve fazer num projeto social de intervenção em massa é a sensibilização, sensibilizar o usuário a entrar no carro, a entrar no tratamento a ir reconstruir a vida em outro lugar e ter outros prazeres, aprender que a vida em sociedade tem outras coisas boas a se compartilhar.
Provavelmente quem tem filhos, mulheres, maridos, pais e mães usuários de crack em situação de rua deve defender do fundo do coração a internação compulsória por que são vítimas reais dos infortúnios dessa substância e dos preconceitos a ela agregados.
A solução na minha opinião é o tratamento individualizado, o acompanhamento de cada usuário, a tentativa de reestabelecer os vínculos familiares, o encaminhamento para o universo do trabalho, o conduzir o individuo a sua própria autonomia, um tratamento diferente do modelo hospitalar, mas parecido com uma escola preparatória para uma nova vida, para uma nova história.
Um tratamento combinado com arte e capacitação profissional, um tratamento onde o cidadão sai de lá e tem pra onde ir, tem um lugar pra morar, tem uma oportunidade de trabalhar pra comprar sua independência.
O problema que enfrentamos hoje é a ignorância prática de leis feitas por quem nunca fumou, nunca cheirou, nunca tomou uma balinha, nunca tomou um pico, diz graças a Deus e cria leis baseadas em história da Carochinha, e os tratamentos de choque de quem nunca nem passou perto de uma dessas instituições de reabilitação, com profissionais sabiadamente pouco capacitados para lidar com as especificidades e as necessidades dos tratados.
Onde o próprio educador social não recebeu uma boa educação para aquela situação e principalmente carrega consigo todos so preconceitos que excluem, agridem e desestimulam o usuário de drogas e do sistema.
Eu acho que devia ter um carro indo pegar criança de rua e levar pra escola, ensina a tocar tambor, ensina a praticar um esporte, ocupa a vida, ocupa a mente, a mesma coisa essas clínicas, tem que ter vida, tem que mostrar a vida pro usuário, fazer a coisa ser boa, ser bonita, tocar, fazer sentir, eu conheço poucas coisas mais eficientes que a  arte e o esporte, e principalmente falta gente capacitada ao diálogo, a chegar na pista e dizer pro cara que é melhor pra ele ir e no fim o cara dizer , é melhor mesmo, é isso mesmo que eu quero, eu quero ir fazer esse tratamento.
E por fim Legalize Cocaine and legalize Marijuana,  e vamos investir numa sociedade onde as pessoas lidam com as drogas como elas lidam com as festas, é de vez em quando, é  pra se divertir, não tem todo dia mas tudo bem, a gente espera quando vai ter uma boa ocasião e assim a vida segue a normalidade.
Sem pânico, por que ninguém ta por ai internando o monte de alcoólatras que bebem todo dia o dia todo e chegam em casa e tocam o terror, batem o carro, atropela criança, e ninguém diz , vamos proibir o álcool, até por que não funciona, a proibição não tem funcionado, a erradicação das substâncias não tem funcionado e a internação compulsória não vai funcionar também.

Falta conversar, falta um dialogo mais verdadeiro, e parar de ficar gastando milhões pra reprimir quem já ta usando ao invés de ir pra escola criar uma geração de pessoas esclarecidas confrontadas com a realidade que não tem medo de bicho papão, não predestinar fraquezas, “se você usar vai ficar viciado e nunca mais vai ser o mesmo e vai destruir a sua vida”, até por que isso é uma variável, e pra concluir eu repito, legalize Now!  E  retire-se  do Estado essa responsabilidade sobre escolhas individuais e regulamenta o uso e bota na mão dos médicos e farmacêuticos e na mão do indivíduo, precisamos ser uma sociedade de adultos, que respondem pelos seus atos e sabem o que fazer e onde metem o seu nariz  e cobrar imposto de todo mundo pra pagar as cartilhas que vão educar as futuras gerações.

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A Autora.

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Andrezza Almeida