Mulheres, Gays,
Negros,Cientistas, Maconheiros …e a ficção da laicidade
E a gente vai fumando que também sem um cigarro
ninguem segura esse rojão…
(Chico)
A sociedade brasileira, padece de um mal, um mal
agouro, um mal olhado, um mal estar, não sei… mas é uma espécie
de devaneio coletivo alimentado pelos meios de
comunicação,reprodutores dos interesses mais conservadores, que
insistem em vender não somente os padrões de beleza impostos pelas
industrias de roupas, cosméticos , fitness e outras coisas desse
gênero, mas também em estipular padrões de normalidade que ,
infelizmente, passam pela ficção do real e pela negação de uma
série de fatos impostos, se não pelas regras previstas numa
sociedade, pela repetição em larga escala de hábitos , costumes,
comportamentos e outras manifestações do ser em coletividade e
enquanto individuo, que denominamos cultura.
Quem faz movimento social, quem tem um segmento no
qual milita, seja sem terra, mulher, gay, negro, cientista ou
maconheiro , sabe que tipos de barreiras tem enfrentado junto
ao Estado pra fazer valer, não valores individuais e manifestações
idiossincráticas, mas problemas que geram aquilo que
Castel chama de Vulnerabilidade de Massa, se
colocamos na balança as pautas de opressões, os tabus e os assuntos
por resolver, como existem nas reivindicações de todo movimento
social, percebemos que o problema é mais coletivo do que supomos
quando estamos com a visão voltada para o essencialismo de nossas
pautas.
Evidente que parcela significativa de nós já
compreendeu a importância dessa mistura, dessas ´pautas conjutas` ,
dessa construção cada vez mais coletiva que arranca nossos olhos
dos umbigos de nossas reivindicações e possibilitam vislumbrar o
universo de semelhanças que existem entre diversos pontos.
Formando assim cidadãos integrais, conscientes de
seus direitos e dos direitos alheios e não somente dos seus deveres
como tem sido a história da luta de classes e das opressões
ideológicas burguesas e hegemônicas.
Logo, não basta que organizemos ,
gays, negros , mulheres, maconheiros e militantes pelos testes em
célula tronco, por que essa militância fragmentada tem fracassado
tentativa a pós tentativa na batalha pela a provação de uma série
de pautas significativas, vide a legalização do aborto,
o casamento homossexual, a criminalização da homofobia, a
legalização da maconha e os avanços da medicina genética. Que
estão no mesmo patamar que as reivindicações sindicais e a luta
pela reforma agrária, com uma distinção básica no campo onde
esses debates ferem mais a ordem vigente e opressora.
Segmentos como Movimento Sindical, MST e MSTS, tem
muitas de suas pautas centrais voltadas para a questão direta entre
os mandos e desmandos do grande capital e a crescente liberdade de
investimentos de recursos, de quem detem os meios de produção, em
detrimento do respeito a vida e a cidadania dos trabalhadores, as
pautas desses movimentos tem em comum a oposição capital X trabalho
e as sucessivas e históricas vitória do primeiro sobre o segundo,
movimentando aquela velha mola marxista para a história
enquanto tensão entre classes.
Nós Gays, Mulheres, Negros, Índios, maconheiros
e cientistas, enfrentamos outra série de problemas, esses não estão
diretamente ligados a esta oposição, mas a outras, as pautas
morais, aos velhos ditames da moralidade que sustentam opressões e
consequentemente tornam a sociedade mais modelável á vontade
daqueles que vivem muito longe dos problemas que acometem
significativa parcela da população.
O maior problema comum desses segmentos que cito
no título desse texto estão relacionados a garantia do Estado
Laico, com isso não queremos oprimir aqueles que professam suas
religiões e as manifestam livremente, queremos a garantia do
bem-estar para pessoas que não comungam de valores sedimentados em
conceitos milenares, logo ultra-ultrapassados, opiniões
frágeis e ainda assim dominantes.
Antes de conseguirmos aprovar as emendas, leis,
portarias e similares vamos ter que conseguir fazer valer e
reinterar-se o Estado Laico, precisamos de legisladores,
executivos e juristas para garantirem a inconstitucionalidade de
certas decisões, precisamos deslegitimar a
argumentação fundamentalista, nos vetos sobre leis, nas
decisões sobre emendas, que determinam pautas que só são polêmicas
por que existe um exército de conservadores, bradando parábolas e
impedindo o avanço, técnico, científico, humano e social, já
é tempo de por fim a transformação do senado e do congresso
em púlpito e nave , precisamos imediatamente de uma pauta comum
que nos garanta avançarmos juntos, fortes e estratégicos rumo a
vitória de muitas pautas de uma só vez, por isso eu lanço a
campanha: Eu quero meu Estado Laico!
Temos essa pauta em comum, precisamos refletir
sobre ela, convencer pessoas e congregar aqueles que não podem ou
resistem a assumirem esta ou aquela bandeira, lutar pelo veto ao
fundamentalismo como argumentação, denunciar as bancadas
e senadores e até limpar nosso próprio jardim.
O grande avanço dessa pauta é que a gente bota
todo mundo embaixo da mesma bandeira e o cara-a-tapa desse o daquele
discurso fica guardado pra quem já ta com a bunda exposta na
janela. Se nem todo mundo assina lista de apoio pra
legalizar maconha ou aborto, dá pra pelo menos afirmar que
coletivamente a gente só quer um Estado baseado no direito recente
da democracia na república e não nalgumas tábuas rabiscadas de
tempos longamente idos.
A luta tá ai, as pautas são diferentes e o
objetivo é o mesmo, queremos respeito, saúde, dignidade e um pouco
de alegria, se não ninguém segura esse rojão.
E eu vos digo: Lgbts, mulheres, negros,
cientistas, índios e maconheiros: Uni-vos! só o Estado Laico pode
trazer o caminho, a verdade e a vida!
Axé!
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