O velho feminismo e a nova mulher
Contemporânea.
Coisa difícil nesta vida é ser mulher, a
opressão está ai viva, conseguimos muita coisa e muitas outras
ainda estão por conquistar, bem como muita coisa ainda precisa se
feita para vencer o “monstro do machismo” que esta ai a espreita,
só esperando um brecha para avançar sobre nós e nos derrotar, é
uma luta cotidiana, feita a cada minuto, é de nós para nós mesmas
e de nós para o mundo.
O feminismo tal como o conhecemos e talvez tal
como o reproduzimos precisa passar por sérias atualizações, e hoje
não existem impedimentos institucionais para que mulheres ocupem
espaços de poder, cargos em direções, virem chefes, presidentes,
diretoras, sejam legisladoras, executivas, líderes sindicais, mães,
amantes, mulheres, avós, tias e ainda resolvam os problemas da casa,
são mil poderes e temos tempo para todos eles.
O poder está ai e cada dia mais o feminino ganha
espaço e algumas mulheres conseguem representar muito bem anseios de
milhões de mulheres, mas eu lhes pergunto é suficiente?
Alguns aspectos realmente precisam ser
ressaltados, aproveito a proximidade do dia das mães para refletir
sobre o que eu aprendi que era ser mulher, e como o mundo nos
faz mulheres outras, que não aquelas esperadas pelas criações, que
nos tomam por vítimas de um sistema opressor, criador de
fragilidades, determinadas por estarem diante de um poder muito maior
que é o poder que tem parido e criado o mundo.
E como coisas belas, raras e caras, são
destinadas aos cofres e cativeiros, ainda os vivemos, não mais de
pedra e ferro, mas desta vez grades virtuais, que são rompidas por
algumas companheiras, mas continuam a existir ali, invisíveis e
reais, aprisionando tantas outras.
É preciso que se diga, são dependências
emocionais, fragilidades sociais, dificuldades estruturais e
contingências ancestrais, os determinantes dos nossos parâmetros de
conduta, são nossos afetos em relação á nós enquanto “mulheres
& expectativas” e o nosso ser agente transformador da realidade
e a quase impossibilidade de separarmos uma coisa da outra.
O que é necessário compreender é que precisamos
passar por uma re-leitura do nosso feminismo, talvez da
grande teoria feminista que nos colocou imersas nas pautas de medo
dos padrões de consumo, da maternidade, da libertação sexual e do
exercício da multiplicidade dos afetos.
Nosso feminismo é hostil e distante das
fragilidades que os homens, não os machos, impuseram e nós
aceitamos, talvez por serem em alguma medida confortáveis,
afastam-nos da necessidade da luta, do uso do nosso poder e da
necessidade de enfrentarmos demônios íntimos e coletivos todos os
dias.
Esse outro mundo que a emancipação feminista
forjou a custa da luta de algumas mulheres, precisa ser de todas as
mulheres, criamos ícones de luta, forjamos referencias de luta, mas
não investimos verdadeiramente na idéia de sermos livres e
companheiras.
O nosso feminismo também julga algumas mulheres
mais importantes que outras, também estabelece parâmetros para
maquiagens, roupas, padrões sexuais. Quando sabemos que o problema
da sociedade igualitária não é esse.
Esse novo feminismo que queremos tem dois pés
dentro da diversidade sexual, é o respeito ao peito, o respeito aos
excessos e as singularidades, como dizem meus companheiros de luta
dentro do movimento de Diversidade Sexual é preciso Fechar!
Aparecer, empoderar-se, sempre e isso é tanto uma luta intima dentro
de nós vencend,o informações defasadas e fazendo cada vez mais
livres os nossos corpos, as nossas mentes e as nossas vontades.
Precisamos deixar que as mulheres tirem de dentro
de si o que quiserem, como os filhos que não escolhemos como virão,
mesmo que já possamos decidir, se, quando e quantos teremos.
Falta-nos uma visão libertadora dos parâmetros
de comparações entre formatos, modelos, enquadres e encaixes, a
verdadeira feminista é livre dos rótulos e poupa-se de colocá-los.
E lhes digo esse novo modelo de feminismo não é
heterossexual, ele é múltiplo, é simplesmente sexual
tendo em vista que concede o direito ao corpo e o exercício da
cidadania, é o nosso julgamento sobre as vontades alheias, é o
nosso olhar de reprovação que dificulta que , de fato, muito mais
mulheres estejam por ai a empoderar-se garantir os avanços
de nossas pautas e quem sabe a extinção do debate do antagonismo de
gênero, fruto da extinção desse antagonismo,
Queremos nosso corpo livre? Façamos! Livre de
quem? Quem está aprisionando nossos corpos? Quais as amarras que
lhes prendem? Temos medo da industria de cosméticos? Por que temos
medo de envelhecer? Tememos os padrões que consumimos e
legitimamos.
E definitivamente esse não é o foco do debate.
Creio realmente que o cerne do debate é sermos
livre, livres de medos próprios, livres da condenação nossa de
cada dia, das cercas com as quais impomos para nós mesmas e para
outras companheiras e mundos tacanhos.
Um novo feminismo e a nova mulher pós-moderna. A
Mulher pós-moderna (com perdão da má palavra), talvez ao contrário
do homem pós-moderno, é engajada, trabalha, consome, vive sozinha,
separou-se, fez sexo sem compromisso, deu por amor e por vontade,
abortou ou nunca engravidou, realizou desejos e fantasias sexuais,
sente-se bem com o próprio corpo, sem-vergonha, por que a mulher
pós-moderna sabe que seu corpo lhe pertence e não pode e não deve
ser alvo de ameaças ou constrangimentos, sejam eles físicos ou
morais. A mulher pós-moderna, age e reage, dá, doa e recebe.
A liberdade sexual, a superação da imposição
dos valores e a compreensão dos novos modelos de família e
sexualidade são fundamentais para uma atualização do movimento
feminista que ganhe mulheres não somente para suas pautas, mas para
o poder, o poder de lutar por creches para as companheiras com
filhos, por mais acesso á saúde, por jornadas menores para mães de
filhos pequenos, pela regulamentação dos vários direitos ao corpo,
o poder de lutar por melhores condições de trabalho, de inclusive
casarem-se com outras mulheres.
Nós não queremos igualdade entre os sexos, mas
antes sim o respeito e o reconhecimento às diferenças e
singularidades que compões as sexualidades, sejam elas hormonais ou
subjetivas.
É preciso camaradas começar a construir um novo
jeito de ser feminista, menos preocupado com como é que se deve ser
mulher e mais envolvido com a necessidade premente de que as mulheres
tornem-se mulheres, libertem-se de ser machistas, tomem as rédeas de
seus destinos e possamos caminhar juntas e juntos reconhecendo nossas
diferenças e respeitando nossas singularidades.
Assim que quando mais tarde nos procurem diremos,
nos libertamos de nós mesmas, dos nossos próprios preconceitos, e
dos monstros debaixo e em cima de nossas camas, ai sim! nos tornamos
verdadeiramente livre!
Mas até lá temos muito trabalho pela frente e
muita ainda por dizer…
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