sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Os rumos do debate da diversidade sexual.


Os rumos do debate da diversidade sexual.





O amor tem pressa e não pode esperar em silêncio num fundo de armário”.
Texto escrito em 2010.




Atualmente vivemos um período muito favorável aos debates das minorias, a maturidade alcançada por nossa democracia tão sofrida historicamente é o que nos permite tal coisa. Nossos Bisavós proclamaram a república, nossos pais venceram a ditadura, nos cabe garantir que todos os cidadãos gozem dos seus direitos humanos e civis.
Atualmente o debate da diversidade sexual tem ganhado espaço, conseguido clareza de elaboração e buscado o apoio de entidades e instituições para a legitimação e visibilidade de suas pautas.
Mas evidentemente nem todos conseguem compreender a importância que a conquista das reivindicações deste movimento tem para a democracia e para a construção de um mundo melhor e mais justo.
Alguns pontos para reflexão:
A criminalização da homofobia:
Todo ano milhares de homossexuais são agredidos e mortos, vítimas de homofobia, ao serem agredidas e passarem por um constrangimento físico, essas pessoas dirigem-se as autoridades e sofrem novo constrangimento, desta vez moral, nas delegacias, que não estão nem acostumadas , nem preparadas para lidar com esse tipo de crime,os homossexuais agredidos, são tratados com desprezo, enxovalhos e descaso.
Os que tiverem boa memória lembrarão que coisa muito semelhante acontecia com muitas mulheres vítimas de violência doméstica, que eram conhecidas comomulher de malandro, por que se calavam e permaneciam vítimas de seus pais, maridos e afins. O avanço deste debate tornou claros os motivos, de diversas naturezas, que permitiam que nenhuma atitude fosse tomada por essas mulheres, a falta de pra onde ir, de como sustentar seus filhos e etc…
Essa luta resultou na criminalização da violência contra mulheres e na criação de delegacias especializadas neste tipo de crime, bem como numa rede de proteção para mulheres em situação de violência.  O mesmo acontecendo com idosos e pessoas vitimas de racismo.
Essas políticas reconhecem que existe um problema educacional e institucional por trás desse tipo de atitude e as campanhas de combate são baseadas nestas formas de intervenção: sensibilização e apoio institucional e constitucional ás vitimas de agressões desta natureza.
É, portanto muito simples, queremos justiça, queremos saber os números da homofobia no Brasil, que são mascarados pela negligência e preconceito de policiais despreparados e pela falta de um registro específico para crimes contra homossexuais. E são nossas todas as reivindicações que já foram um dia de todos os movimentos sociais já citados.
A União Civil:
Há anos tramita no congresso nacional a proposta de regulamentação da união civil de casais homossexuais. Barrada sucessivamente pelos conservadores representados nas bancadas de protestantes, católicos e outros grupos comprometidos com o moralismo arcaico de muitos dos nossos compatriotas. Os mesmos que tem atrapalhado as discussões sobre o aborto e a regulamentação da maconha.
A união civil garantiria o reconhecimento da legitimidade do amor entre pessoas do mesmo sexo e igualdade de direitos civis como heranças, pensões, sobrenomes, planos de saúde e similares, direitos dos quais os casais homossexuais têm sido alienados.
A homoafetividade tão presente nos jogos de futebol e encontros tipo luluzinha, é rejeitada quando esse afeto inclui sexo, claro trauma de uma noção de sexo procriativo, já superada desde o incrível advento da pílula anticoncepcional.
A adoção homoafetiva:
Sabemos que vivemos num país onde crianças são abandonadas, essas, quando conseguem não estar na rua em situação de risco e miséria, são confinadas em instituições onde são criadas de forma massificada e sem afeto, recebendo uma educação formal, mas sem os bons critérios de um ambiente doméstico saudável e amoroso.
Não  existem motivos para a não aprovação desta lei que não sejam o conservadorismo já citado e um determinismo demente que supõe que filhos de casais homossexuais serão homossexuais ,afirmando nisso um problema e desconsiderando que a grande maioria dos homossexuais são filhos de casais hetero.
A adoção homoafetiva, tão solicitada por casais cheios de amor, recursos financeiros e educacionais seria uma solução sem par para o problema de milhares de crianças já sem esperança de encontrarem um lar.
A mudança dos documentos de transgêneros.
A mudança de sexo é um processo complicado de vários pontos de vista, clinicamente as pessoas com esse desejo são examinadas por uma comissão médica que inclui acompanhamento e avaliação psiquiátrica e de diversas naturezas para que enfim possam fazer a operação, por que, freqüentemente desde muito jovens manifestam um comportamento avesso a sua condição sexual biológica, os tramites médicos que viabilizam essa mudança, que também não é autorizada no Brasil, são extensos, delicados e exaustivos. Além de toda dificuldade envolvida na readaptação ao convívio social, esta é ainda mais dificultada pelo fato de que a mudança da documentação não é autorizada, quase que impedido os transgêneros de terem uma vida normal e de acordo com sua nova situação.
A educação frente o debate da diversidade e o caso dos travestis.
Eu pergunto: Quantos travestis existem na universidade? Quantos travestis você viu nos colégios onde estudou? Quantos você conhece que estudam ou trabalham em quaisquer dos lugares onde você freqüenta? Oxi…Será que não existe travesti fora de zonas de prostituição?
A questão que aqui se apresenta é a mesma que consegue transpassar todas as pautas já citadas, os travestis são impedidos de estudar pela total falta de respeito e compreensão que sofrem na escola, por parte de colegas, professores e pais, são fadados ao isolamento, ao tolhimento constante de sua sexualidade e passam por toda sorte de constrangimento até abandoarem a escola, empresas não contratam travestis, não existem muitas oportunidades, e uma vez rejeitados por suas famílias e amigos, e ser institucionalmente marginalizados, restam poucas alternativas para sobreviver além da prostituição. Que por sua vez também não é regulamentada recaindo numa falta total de perspectivas futuras, quando da falência do corpo pelo tempo e o desgaste de uma vida em nada fácil.
O que a bandeira do Arco-íris evidencia, não é apenas o orgulho GLBTT, das passeatas ou o estereótipo gay presente em muitas mentes, ela mostra dor, limitação, morte, sofrimento, constrangimentos, humilhações, anticidadania, desprezo, negligencia e principalmente a manutenção de uma heteronormatividade excludente, agressiva e institucionalizada.
A militância pela Diversidade tem objetivos muito simples de compreender, mas que trazem consigo uma dificuldade, de vida, de conseguir vencer esta luta, nosso objetivo é mudar a mentalidade das pessoas, a estrutura do Estado e as práticas discriminatórias cotidianas.
Não são coisas simples, antes são das coisas mais difíceis de se conseguir, por que exigem que muitos estejam unidos nesta empreitada, exige que vençamos nossos próprios medos e preconceitos, que operemos transformações na nossa própria maneira de entender o mundo e que sejamos incansáveis nesta batalha pelo direito de uma vida digna.
Enquanto houver um ser humano sendo discriminado ou morto, por ser diferente, nossa luta não terá terminado.
Hasta la vitória siempre!
(Comandante Che)   
Texto de 2010.

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A Autora.

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Andrezza Almeida