reminiscências
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Era 22 de
abril de 1500, havia meses que a galera que trazia navegadores,
clérigos e indigentes de origem duvidosa desembarcou em terras
tupiniquins, naquele dia, se não reinava a paz em território
nacional, havia a pequena guerra branca entre tribo, com suas regras
e costumes, com suas honras e ofensas, as caravelas trouxeram com
elas as leis do canhão e da carabina.
A forma
de povoamento e colonização em nosso território ocorreu de forma
violenta e dado o passar dos séculos não temos mais a quem culpar,
nos cabe no entanto cada dia mais diminuir o rastro de sangue que
escorre de nosso passado de carnificina étnica e insiste em manchar
nosso futuro.
Uma coisa
deve ficar clara na história da sociedade brasileira, quem existia
aqui, a pertença deste território era compartilhada entre os
autóctones nacionais, que cá viviam dentro de um regime de comunhão
com a natureza e consumo sustentável. Foram os estrangeiros que
trouxeram pra dentro dessas terras a bala e a cerca, os grilhões e
os sermões.
O tratado
de Tordesilhas assinado pelos governos espanhóis e português que
dividia o território nacional alienando-a do povo que nela vivia em
beneficio de representantes dessas coroas, que se valeram da falta de
munição das tribos para enterrarem cocares, histórias, línguas,
saberes e todo uma série de valores culturais que não temos mais
acesso e não mais teremos.
Quando
foi declarada a independência do Brasil demos nosso primeiro passo
na construção de uma nação, nos afirmamos donos do nosso
território, aos poucos deveríamos ter nos miscigenado ao ponto de
nos entendermos todos como brasileiros e nossas diversas cores, e
nossas diversas fés e outras tantas idiossincrasias, mas não foi o
que aconteceu, a polarização continuou e desde o primeiro negro se
luta contra a escravidão e os prejuízos físicos e morais do
preconceito étnico.
E com o
povo Indígena o que se viu foi uma tutela do Estado que mais impõe
cerceamento de autonomia que uma mediação para a reparação
necessária. Do mesmo jeito que o povo negro e seus descendentes
precisaram de uma reparação que viabilizasse acesso, permanência e
dignidade para a população negra em escolas, empresas, e em outros
diversos espaços publico e de representação, também se faz
necessária uma reparação indígena, que devolva a dignidade
extorquida e vilipendiada do povo que aqui vivia, por um poder que
não reconhecia o estrangeiro como semelhante.
É
preciso por fim a barbárie de mais de 500 anos, não há dúvidas, o
território é e sempre deve ter sido índio, é devolver parte da terra,
isso é manutenção da vida e é o respeito a cidadania, é
colaboração com a preservação da natureza e devia estar nos
pacotes de medidas de preservação, menos pasto e mais floresta,
menos terra de um dono só e mais devolução de terra coletiva,
menos mortes silenciadas pelas mídias e mais visibilidade ao
extermínio contínuo da população indígena, essa terra é de
todos nós, mas não era nossa não, lhe herdamos de ladrões, somos em maior ou menor medida todos
descendentes desses ladrões violentos, precisamos não repetir os erros
dos nossos antepassados, precisamos não sofrer por regras do passado, precisamos tirar essas manchas da nossa
constituição.
Falta nesse país uma
reforma agrária séria, que faça valer os interesses daqueles que
não tem onde viver nem o que plantar, daqueles para quem a terra é
o meio de vida, não o meio do lucro, não vamos nos tornar uma
sociedade socialista e com equidade de direitos do dia pra noite,
precisamos rever nossas leis, desmistificar obscuridades, rever
morais equivocadas e reescrever nossa história com discernimento,
com humanidade , com justiça e fraternidade, e decidir cada vez mais
em favor da vida e das boas transformações.
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